Aconitum

Violenta tormenta que passa logo. De que outro modo descrever o contra-ataque a uma ansiedade que nasce de qualquer insignificância do nada? Você sente o turbilhão?

2.5.11

Respira...


Como não afogar quando se mergulha num mar de dúvidas ? O Desespero Humano, de Kierkegaard, me marcou em determinado momento da minha vida. E até hoje ele volta. Como onda. Bate e reflui. Era incrível como ele descrevia com exatidão esse turbilhão de impotência que me domina.

Mas há a vida. Não se pode parar. Deve haver uma maneira de se aprender a nadar em meio a esse volteio de incertezas que nos assoma cotidianamente. Como medir nossas atitudes com a régua certa? Qual a balança mais indicada para pesar nossas ações? A moral? A ética? A religião? Ou a vigilância da minha mãe?

Diante da urgência da escolha, ele surge. Desespero de potência. Há um imenso universo de possibilidades, mas como se ter certeza que se fez a decisão certa? Tenho medo de errar. De não fazer a melhor escolha. Fibromialgia da alma. Paralisia. Depressão. Covardia moral, como diz Lacan. Essa incerteza me paraliza.

Hoje acredito que mais importante do que tomar a decisão certa, é TOMAR A DECISÃO. Fazer a escolha. E lidar com suas consequências. Ter responsabilidade sobre o que se faz e o sobre o que não se faz. Sobre o que se fala e o que não se fala. E aqui abraço novamente Riobaldo: o que a vida quer da gente é coragem. É dessa coragem que o Rosa fala.

E este post era só para comentar que gostei muito de ter assistido o texto de Eduardo Adianzén, ¡Respira!

Foi na VI Mostra Latino Americana de Teatro de Grupo, no último sábado. Encontrei Eduardo no saguão do Centro Cultural São Paulo. Ele veio do Peru para a estreia da peça na mostra. Trocamos nossas encomendas. Entreguei a ele a cópia de um texto que uma amiga peruana me encomendou. E ele me entregou as fantásticas chocotejas. Não direi o que são chocotejas. Apenas recomendo que visite Lima, imediatamente, nos próximos meses. Mas o melhor presente de Eduardo, que me perdoem as chocotejas, foi saborear seu maravilhoso texto.

José Manuel Lázaro está fantástico no papel de Mário, um limenho de 40 anos que partilha com o público seu medo de se afogar. De uma primeira experiência traumática, sofrida numa piscina quando criança, ele parte para nos relatar sua infância. Nesse percurso, surge a força da religiosidade e moral católica na sociedade peruana, o ambiente político da década de 1980 e o crescimento do Sendero Luminoso, cuja atuação deixaria uma ferida ainda aberta no Peru, depois de 20 anos de guerra civil.

Só mesmo o ponto de vista de uma criança para trazer poeticidade para um momento tão pesado na história do país. Eduardo revisita a ideologia da esquerda na América Latina (sim, nossa também... nós, latino-americanos, somos muito mais parecidos do que nós, brasileiros, imaginamos...) de forma a relativizar sua atuação, tanto dos grupos armados, quando dos intelectuais, nessas últimas décadas do século XX. Enquanto estes apostaram na democracia, que foi sufocada pelas diversas ditaduras que se implantaram no continente nesse período, aqueles fizeram a opção pela luta armada, que não logrou seu objetivo e ainda deixou, ao Peru, um saldo de 31.000 mortos. Quem fez a opção correta? E é diante da discrepância entre as certezas inequívocas dos personagens e suas consequências frustrantes  que Mário se sente afogar.

Respira... hay que aprender a nadar, pués...

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