Aconitum

Violenta tormenta que passa logo. De que outro modo descrever o contra-ataque a uma ansiedade que nasce de qualquer insignificância do nada? Você sente o turbilhão?

5.4.10

O Cinema















Assisti Cinema, do diretor Felipe Hirsch, em cartaz no Teatro do Sesi. Era sexta-feira. E santa, agora me lembrei, santa! Sexta-feira da Paixão. Interessante experiência para um dia santo, para alguém que já abandonou há algum tempo a casa do Senhor. Mais do que espectador me senti um contemplador, para manter a experiência religiosa que o dia evoca. O cenário, como o título aponta, é uma sala de projeção, como tantas que já habitamos em nossa vida, com suas poltronas em couro vermelho, enfileiradas. Espaços de experiências que tornam esses lugares repositários de tantas lembranças e emoções.

No espetáculo, quinze atores se revezam num entra e sai constante, apresentando um desfile de personagens, que, com pequenas variações, repetem uma mesma operação: procuram uma poltrona, sentam-se e assistem a um filme. Filme esse que nós, público da peça, ignoramos. Dele escutamos apenas os diálogos. E lemos nas faces do elenco, as emoções que as cenas do filme suscitam nas personagens. Ficamos a imaginar o que aqueles olhos estariam vendo.

Por minha reduzida cultura cinéfila, não pude reconhecer nenhum dos filmes projetados. Para mim ficaram em segundo plano. Ali, o jogo de cena era outro. Eram as lágrimas e suspiros das mocinhas românticas, o flerte entre homens e mulheres, os encontros e desencontros de casais, o maravilhamento suscitado por uma cena apoteótica, as taras liberadas no escuro da sala. Pequenas cenas, construídas em curtos diálogos que pipocam de um lado e de outro do palco.

O roteiro surgiu de improvisações motivadas pelo diretor em parceria com o jovem elenco. Tive a impressão de que esse coletivo criador esgotou as possibilidades de situações possíveis de acontecerem numa sala de cinema. Apela assim, em alguns momentos, depois da metade do espetáculo, para situações bizarras, mas, ao mesmo tempo hilárias.

Nas brincadeiras dos atores, lembrei de quando meu pai corria atrás de mim e de meus irmãos nas sessões de desenhos da Disney. O filme era apenas pretexto para brincarmos de pega-pega na sala de cinema. Nas cenas de comédia, me identifiquei com essas risadas coletivas que arrebatam toda a plateia e nos fazem todos alegres ao mesmo tempo.

Observar esse espetáculo foi uma experiência interessante, como já disse. Chegou até mim de uma forma diferente, tocou minha alma de maneira distinta. Por isso parabenizo o diretor e o elenco.  Em determinado ponto, depois de tanto tempo na mesmo postura, sentados em semelhantes poltronas, plateia e atores plateia,  me senti tão irmanado com as situações vividas pelas personagens que a famosa quarta parede caiu. E me senti a vontade no meio deles.

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